O treinador geralmente possui alguns conceitos de jogo e imagina sua equipe cumprindo-os. Os jogadores, por sua vez, carregam conceitos e episódios de jogadas que devem ser colocadas em prática, de forma operacional, de acordo com as circunstâncias.
Por meio das tarefas de treino representativas do jogo, acontece o encontro entre as ideias de jogo do treinador e dos jogadores, que experimentam também, através do exercício, novas possibilidades de interação.
É importante que o treinador tenha, além das sua ideias de jogo, um olhar capaz de observar as características dos jogadores com quem trabalha, que entenda a maneira como jogam, em qual função tais características se adequam à equipe e imagine, da relação entre eles, quais combinações serão possíveis.
A medida que esse processo se conforma, entre entender acerca dos indivíduos e saber quais ideias de jogo podem ser colocadas em prática, a construção do ambiente de aprendizagem possibilitará aos jogadores explorarem de forma criativa as situações representativas do jogo.
Particularmente, gosto de criar o cenário do treino transferindo uma situação à uma forma jogada que eu entenda ser representativa do jogo. Explico o contexto e os objetivos, tento fazer os jogadores visualizarem a situação, mas não conto quais os caminhos (movimentações e jogadas) que os jogadores devem percorrer para atingir os objetivos, tento provoca-los à buscar maneiras de vencer o desafio da tarefa de treino. A partir disso deixo que exercitem, manipulo, quando necessário, as condicionantes do jogo para que a atividade continue tendo um sentido. Penso que três critérios pedagógicos devem ser balizadores da aplicabilidade das tarefas de treino: a repetição, a variabilidade e a continuidade. Sem repetir as mesmas tarefas fica difícil assimilar os conteúdos, sem variar a tarefa fica monótona, e sem continuidade é possível que haja acomodação ou até retrocesso do conteúdo de jogo aprendido.
Escolhi, aleatoriamente, exemplos de como podem ser transferidas estas situações representativas das ideias de jogo do treinador. Vou descrever somente as regras de ação do ataque, mas saibam que não estão excluídas as regras de ação defensivas nestas atividades. Tendo em vista que quanto mais a defesa se organiza, mas o ataque deve criar para cumprir o objetivo do jogo.
Situação 1
A primeira situação exemplificada tem como objetivo desenvolver o início de jogo de uma equipe, ou seja, sair em progressão apoiada da 1ª fase de construção (ou primeiro terço ofensivo ou simplesmente zona 1).
Em uma situação micro-tática, são explorados jogos ao redor da bola com o objetivo coletivo de manter a posse de bola. A estrutura de 4vs2, espaço efetivo de jogo semelhante ao que vai acontecer no jogo.
No nível individual o objetivo é que os jogadores melhorem a tomada de decisão, o posicionamento corporal, sua capacidade de perceber as linhas de passe, de pensar na jogada do próximo instante antes de receber a bola, de movimentar-se para abrir linhas de passe e de desmarcar-se, etc.
Situação 2
O objetivo da segunda situação é a progressão apoiada pelo corredor. Nesta tarefa utilizamos quatro jogadores atuando por fora de um retângulo de aproximadamente 20x40m, três jogam por dentro e quatro jogadores participam da defesa. A regra consiste em fazer com que a bola chegue aos jogadores externos, nas pontas do retângulo. A meta a ser cumprida pelos jogadores de ataque deve ser manter a posse da bola em progressão pelo corredor.
Situação 3
Nesse exemplo, o objetivo é explorar situações de ataque pelo corredor com infiltração no último terço do campo. Os ajustes da complexidade da tarefa podem ser manipulados pelo número de jogadores que jogam dentro e fora do quadrado, entre 4+2v3v2, 4v4, e assim por diante. Na situação exemplificada no vídeo, possuem quatro jogadores dentro do quadrado e um apoio contra 4 defensores.
O objetivo desse texto é instigar os treinadores a criarem seus próprios conceitos de jogos e as próprias tarefas de treino. No Brasil temos muitos treinadores criativos, elaborando através das experiências empíricas e teóricas seus próprios métodos e contribuindo para construção da nossa pedagogia. Isso precisa ser valorizado, compartilhado, organizado. Há tempos venho pensando em uma plataforma digital (rede social) onde isso pudesse ser feito na velocidade de um “clique”. Mas isso é assunto para outra hora. Até a próxima…
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Fonte: Universidade do Futebol
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