O glúten está no centro de uma das maiores polêmicas do momento. Isso porque muitas fontes garantem que seu consumo é seguro para todos, exceto para os portadores de doença celíaca, enquanto outros acreditam que o glúten é prejudicial para a maioria das pessoas.
O fato é que muita gente tem evitado ingerir alimentos com glúten, seja por acreditar que ele é prejudicial ou porque está fazendo uma dieta que elimina o seu consumo. No entanto, para aqueles que sofrem com alergia ao glúten, não consumir é uma imposição e não uma alternativa, pois sua ingestão pode causar muitos sintomas desconfortáveis e problemas para a saúde.
O que é glúten?
O glúten pertence a uma família de proteínas que são encontradas em grãos como centeio, espelta, cevada e trigo, que é disparadamente o mais consumido. Ele faz parte do endosperma dos grãos e é responsável por nutrir os embriões das plantas durante a germinação. Ele também contribui com a elasticidade da massa, porque quando a farinha é misturada com água ela forma uma espécie de cola, capaz de manter a comida unida.
As proteínas presentes no glúten geralmente pertencem a duas classes, a glutenina, responsável pela elasticidade da massa, e gliadina, que dá ao pão a capacidade de crescer durante o cozimento, e que costuma provocar a maioria dos efeitos negativos sobre a saúde.
Diferente do que muitas pessoas pensam, nem todos os grãos contêm glúten. Por exemplo, os grãos de sorgo, o painço, o arroz, o trigo mourisco, a quinoa, tapioca e o milho não contêm. A aveia também é isenta de glúten, mas pode ser facilmente contaminada durante o processamento, por esse motivo algumas pessoas preferem evitar.
Alergia ao glúten
O nosso sistema imunológico tem o papel de nos proteger de patógenos, corpos estranhos ou bactérias, vírus, substâncias tóxicas e outras coisas que possam interferir na nossa saúde. A alergia é uma resposta do sistema imunológico, quando ele entende que uma substância normal ou boa é nociva, e quando isso acontece ele produz anticorpos para combatê-la, o que desencadeia uma reação alérgica.
Então, se ele está respondendo dessa forma ao alimento, todas as vezes que você ingerir o seu sistema imunológico vai atacar, por entender que tais substâncias são prejudiciais como um patógeno, por exemplo.
No entanto, a alergia ao glúten não é realmente uma alergia, porque o glúten dificilmente provoca reações alérgicas verdadeiras – inclusive a classe médica nem utiliza esse termo. Embora seja possível ter uma verdadeira reação alérgica à proteína do glúten no trigo, essa alergia é geralmente tratada como alergia ao trigo, e não ao glúten. Então, alergia ao glúten faz referência a uma das condições médicas reconhecidas que envolvem reações do sistema imunológico ao glúten. Elas são:
- Doença celíaca: Sem dúvida a maioria das pessoas que afirmam ter “alergia ao glúten” têm a doença celíaca, ainda que ela não seja uma alergia, mas uma reação ao glúten. A doença celíaca é um distúrbio autoimune grave para o qual o único tratamento é não consumir alimentos que contêm glúten. Quando você tem doença celíaca e consome glúten, ele aciona o sistema imunológico para atacar o revestimento do intestino delgado.
- Sensibilidade ao glúten não celíaca: Também conhecida como “sensibilidade ao glúten”, é uma condição que costuma ser muito parecida com a doença celíaca. Ainda não há exames para identificar a sensibilidade ao glúten, então ela geralmente é diagnosticada quando as pessoas apresentam reações depois de comer alimentos com glúten, mas os resultados dos exames para evidenciar a alergia ao trigo ou doença celíaca trazem um resultado negativo.
- Intolerância ao glúten: Intolerância ao glúten significa sensibilidade ao glúten. Atualmente, pesquisadores e médicos já têm usado o termo acima, “sensibilidade ao glúten não celíaca”, no lugar de “intolerância ao glúten” para pessoas que não têm doença celíaca, mas que sofrem de sintomas do glúten. Tudo indica que em um futuro breve o termo não será mais usado.
- Dermatite herpetiforme: É uma espécie de erupção cutânea e uma vez que muitas pessoas associam erupções cutâneas a alergias, não é incomum que ela seja chamada de alergia ao glúten. A dermatite herpetiforme é uma doença autoimune provocada pelo sistema imunológico em resposta à ingestão de glúten. Quando esse tipo de diagnóstico é feito, o paciente deve evitar o glúten para gerenciar o problema.
- Ataxia do glúten: É uma condição autoimune em que o sistema imunológico ataca o cérebro e o sistema neurológico em resposta ao consumo de alimentos que contêm glúten. Embora a doença seja rara, ela é uma condição existente e as pessoas que são afetadas precisam evitar totalmente o glúten para evitar danos neurológicos.
- Alergia ao trigo: Essa sim é uma verdadeira alergia. Ainda que muitas pessoas se refiram ao problema como uma alergia ao glúten, a reação alérgica envolve mais componentes do trigo do que apenas a proteína do glúten. As pessoas que são alérgicas ao trigo precisam evitar, mas podem comer cevada, centeio e também outros grãos com glúten. A alergia comumente afeta crianças, mas adultos também podem experimentar.
Da próxima vez que escutar alguém relatando que tem “alergia ao glúten”, saiba que ela provavelmente estará se referindo a uma das condições listadas acima.
Principais sintomas
Os sintomas de alergia ao glúten muitas vezes são comuns e facilmente confundidos com outros problemas de saúde. Por exemplo, problemas digestivos, alterações na pele ou problemas neurológicos nem sempre são relacionados imediatamente a uma alergia ao glúten, justamente porque eles estão associados a muitas outras doenças. Geralmente, um diagnóstico é feito quando outras possíveis razões para os sintomas foram descartados.
Por esse motivo, conhecer os principais sinais pode antecipar o diagnóstico, permitindo que as intervenções necessárias e adequadas sejam feitas para gerenciar a condição. Relacionamos abaixo os principais sintomas associados a todos ou aos principais tipos de alergia ao glúten.
1. Problemas digestivos
Muitas pessoas apresentam problemas digestivos quando o sistema imunológico reage ao glúten. Os sintomas mais comuns envolvem a inchaço, gases, prisão de ventre ou diarreia, refluxo e dor abdominal. Você pode ter um, dois ou mais e eles podem ser apenas incômodos ou debilitantes em alguns casos.
No entanto, não é uma regra, pois você não precisa obrigatoriamente ter sintomas digestivos para ser diagnosticado com distúrbios relacionados ao glúten. Porém, se existe uma digestão disfuncional, é possível que o glúten seja a causa.
2. Perda de peso
Perda rápida de peso e dificuldade de manter são sinais precoces de doença celíaca. Esse costuma ser o resultado da dificuldade do corpo de absorver nutrientes, provocando desnutrição.
Um estudo que contou com 112 pessoas com doença celíaca evidenciou que a perda de peso afetou 23% deles e esse foi um dos sintomas mais comuns, depois da diarreia, fadiga e dor de estômago.
Outro estudo analisou 42 crianças com doença celíaca que já estavam realizando uma dieta sem glúten. Os resultados mostraram um aumento significativo no peso corporal.
3. Anemia por deficiência de ferro
A doença celíaca pode prejudicar a absorção de nutrientes e pode provocar uma anemia por deficiência de ferro, uma condição causada pela falta de glóbulos vermelhos no organismo. Os principais sintomas incluem fadiga, fraqueza, dores no peito, dores de cabeça e tontura.
Esse sintoma já foi percebido em diversos estudos. Um deles especificamente analisou 84 pessoas com anemia por deficiência de ferro de origem desconhecida, e descobriu que 7% dessa população tinha doença celíaca. Depois de seguirem uma dieta sem glúten, os níveis séricos de ferro aumentaram significativamente.
4. Alterações na pele
Erupções cutâneas e coceiras são sintomas comuns em pessoas que têm doença celíaca e sensibilidade ao glúten não-celíaca. Os sintomas mais comuns envolvem a presença de psoríase, urticária e dermatite atópica. A vermelhidão, coceira e até erupções podem ser uma consequência.
Já aqueles que sofrem com dermatite herpetiforme experimentam uma erupção cutânea mais severa. A pele geralmente fica repleta de manchas vermelhas, com bolhas de água e elas geralmente provocam uma sensação de queimação.
No entanto, nem todos os problemas de pele estão relacionados à ingestão de glúten, mas se eles são resistentes e não saram, a sua dieta pode estar provocando.
5. Névoa mental
Ter névoa mental pode trazer dificuldades para se concentrar, ou até lapsos de memória de curto prazo. Também é comum perder a argumentação enquanto conversa ou escreve algo, por exemplo.
Problemas como fibromialgia, síndrome da fadiga crônica, alergia ao glúten e outros podem apresentar esse sintoma, mas nem todos experimentam com a mesma intensidade.
A névoa mental costuma afetar pessoas que sofrem com três dos cinco tipos de alergias ao glúten que relacionamos acima. Os portadores de doença celíaca, sensibilidade ao glúten não-celíaca e a ataxia do glúten costumam ser os mais comuns.
Como outras doenças também apresentam comumente esse sintoma, ele deve estar associados a outros aspectos da alergia ao glúten para apoiar o diagnóstico.
6. Dor de cabeça
Dores de cabeça como as enxaquecas podem ser desencadeadas pelo glúten, sendo assim não é incomum que as pessoas que são alérgicas experimentem essa condição.
Pessoas com doença celíaca e sensibilidade ao glúten são mais predispostas, de acordo com um estudo publicado na revista médica Headache. Os resultados mostraram que 56% das pessoas com sensibilidade ao glúten, 30% das pessoas com doença celíaca, e 23% das pessoas com doença inflamatória intestinal relataram dores de cabeça crônicas.
Um estudo mais aprofundado para evidenciar casos de enxaqueca mostrou que 21% das pessoas com doença celíaca sofrem mais com o problema, mas ele afetou também 14% dos participantes com doença inflamatória intestinal.
7. Fraqueza, dormência e dor nos nervos
Esses sintomas juntos podem ser chamados de neuropatia periférica e costumam provocar formigamento frequente nas mãos e pés, e em alguns casos dormência nos membros.
A neuropatia periférica é mais presente em pessoas com doença celíaca e ataxia de glúten. Aqueles com sensibilidade ao glúten não-celíaca também podem experimentar, inclusive não é incomum.
A neuropatia periférica também é comum em pacientes com diabetes, pessoas com lesões, distúrbios renais e deficiências vitamínicas, entre outras condições. Se você sofre com o problema e foi diagnosticado com algum distúrbio ao glúten, manter uma dieta sem nenhum tipo de alimento do grupo pode retardar consideravelmente o problema.
8. TDAH
TDAH é uma abreviação de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade presente na alergia ao glúten, mais especificamente em pessoas com doença celíaca. Estudos feitos com pessoas recém-diagnosticadas mostraram que os sintomas de TDAH em pessoas alérgicas ao glúten desapareceram ou melhoraram relevantemente após alterações na dieta, eliminando produtos que continham glúten.
Para aqueles que sofrem com TDAH e não têm doença celíaca, não está claro se uma dieta sem glúten pode ajudar, mas pode ser um assunto a conversar com um profissional especializado.
9. Depressão e ansiedade
Muitas pessoas não fazem essa associação, mas existem muitas ligações entre a alergia ao glúten e a depressão e ansiedade. Tanto aqueles que sofrem com doença celíaca, quanto sensibilidade ao glúten não celíaca e ataxia do glúten podem apresentar sintomas.
Algumas evidências apontam que a depressão em pessoas com doença celíaca tem relação com possíveis mudanças no cérebro que podem ter sido originadas por danos intestinais, que impedem a absorção de certos nutrientes importantes para o funcionamento do cérebro.
Além disso, as pessoas que têm sensibilidade ao glúten não celíaca também compartilham de sintomas relacionados à depressão e ansiedade. Manter uma dieta livre de glúten pode ajudar, mas pode não ser uma solução definitiva.
10. Infertilidade
Muitos homens e mulheres que sofrem com a doença celíaca têm problemas com a fertilidade. Embora os motivos não estejam claros, é possível que a desnutrição presente na doença seja a responsável.
Mas nem tudo está perdido: segundo estudos, manter uma dieta sem glúten estimula a fertilidade, tanto em homens quanto em mulheres, e isso pode ser uma contribuição valiosa se você está planejando ter um bebê.
Caso a sua alergia ao glúten seja na verdade causada pelo trigo, significa que você terá uma verdadeira reação alérgica. O corpo promoverá uma resposta imune a qualquer uma das proteínas presentes no trigo, incluindo, mas não se limitando ao glúten, e pode afetar principalmente as crianças. Os sintomas mais comuns são náusea e vômito, diarreia, irritação na boca e garganta, urticária e erupção cutânea, congestão nasal, irritação nos olhos e dificuldade ao respirar.
Os sintomas geralmente começam logo após o consumo do trigo ou em até duas horas, e eles podem ser mais leves ou em casos mais severos, fatais. Isso pode acontecer porque a alergia ao trigo pode provocar anafilaxia, um problema respiratório grave. Se apresentar sintomas de alergia, procure um atendimento de emergência.
Diante das possibilidades, como identificar qual tipo de alergia você tem?
Conhecer os sintomas pode ajudar muito o diagnóstico. Para perceber melhor como o seu sistema imunológico reage ao glúten, você pode manter um diário alimentar, fazendo anotações de tudo o que comeu e quais sintomas experimentou, de acordo com os alimentos. Depois disso, faça uma pausa, eliminando todos os produtos com glúten da dieta e reintroduzindo gradativamente alguns dias depois.
Com a ajuda do diário alimentar, você pode identificar quais alimentos causam problemas e se o glúten faz parte. É claro que você deve contar com o apoio de um médico, e ele poderá recomendar alguns exames para ajudar a diagnosticar.
Se os seus sintomas gastrointestinais sugerem a doença celíaca, você provavelmente fará um exame de sangue específico para esse fim. Se os resultados forem positivos, o médico poderá pedir uma endoscopia para examinar o intestino delgado e coletar amostras para exames laboratoriais.
Se os resultados foram negativos para a doença celíaca, mas os sintomas são claros, o médico pode diagnosticar uma sensibilidade ao glúten não-celíaca ou outra condição, como a síndrome do intestino irritável, e pode recomendar testes para a sensibilidade ao glúten .
Se os seus sintomas estão relacionados a uma a alergia ao trigo, exames cutâneos e de sangue para rastrear anticorpos específicos para proteínas do trigo podem ser solicitados e o diagnóstico nesse caso também pode ser mais preciso.
Aqueles com erupções cutâneas que acreditam ter dermatite herpetiforme devem procurar ajuda de um dermatologista, que pode recomendar uma biópsia da pele. Porém, se os sintomas indicam ataxia de glúten, o caminho pode ser mais longo, e são necessários vários testes para obter um diagnóstico preciso.
Se os sintomas tratados aqui são familiares, não deixe de procurar um médico para obter um diagnóstico mais preciso. Um tratamento precoce é fundamental para evitar complicações e também para gerenciar a doença. Um profissional de saúde também será capaz de definir as novas diretrizes dietéticas, considerando que em muitos casos é necessário retirar o glúten da dieta.
Referências adicionais:
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15051613
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21224837
- https://www.nature.com/articles/ajg2010487
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18378288
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9178673
- https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22313950
Você acredita que tem um desses tipos de alergia ao glúten que listamos acima? Quais sintomas já percebeu? Comente abaixo!
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