Introdução
O futebol profissional atual é extremamente competitivo, exigindo atletas fisicamente e psicologicamente bem-preparados, fortes e rápidos, capazes de suportar cargas cada vez maiores de treinamento e jogos.
Nos últimos anos, o estado nutricional dos jogadores de futebol passou a ser investigado com maior atenção por todos aqueles que trabalham com o esporte, incluindo: técnicos, preparadores físicos, fisiologistas e, obviamente, os nutricionistas.
A literatura científica apresenta fortes evidências científicas de que o estado nutricional do atleta de futebol afeta diretamente seu desempenho nos treinamentos e jogos1,2,3.
Uma alimentação adequada visa atender às necessidades de energia e aporte de nutrientes que auxiliem o atleta a suportar as demandas de treinos e jogos, assim como a de contribuir com a saúde. Além disso, cabe à alimentação propiciar o estado metabólico adequado para que ocorram as adaptações desencadeadas pelo processo de treinamento, permitindo assim o aumento do desempenho4.
Cafeína
A cafeína (1,3,7-trimetilxantina) é a substância mais consumida do mundo5, sendo encontrada como componente natural de diversas bebidas e produtos, como: em grãos de café, folhas de chá, chocolate, cacau, refrigerantes e nozes de cola.
Seus efeitos ocorrem no sistema nervoso central (SNC) e nas mais diversas funções orgânicas, dentre elas: hormonais, metabólicas, musculares, cardiovasculares, pulmonares e renais durante o exercício6,7,8,9,10.
Dentre as principais alterações, encontra-se: (1) Broncodilatação dos alvéolos; (2) Vasodilatação dos vasos sanguíneos; (3) Ativação neural da contração muscular; (4) Infiltração sanguínea nos rins.
Os efeitos citados ainda apresentam relação com a redução das seguintes variáveis para a mesma taxa submáxima de esforço: (1) Redução da taxa de troca respiratória; (2) Redução da fadiga periférica.
Além disso, a cafeína também apresenta forte associação com o aumento do consumo de oxigênio, do débito cardíaco, da ventilação pulmonar, dos níveis circulantes de adrenalina, da taxa metabólica e da oxidação da gordura em exercícios de resistência, tanto em indivíduos treinados e como nos indivíduos não treinados8,10,11,12,13.
O objetivo dessa suplementação baseia-se no aumento da produção de energia e na reserva de glicogênio estimulando a utilização de gordura. De fato, o aumento do rendimento está associado ao fato da cafeína reduzir a percepção da fadiga, aumento a atividade do sistema nervoso central melhorando o recrutamento das fibras14,15.
Costill et al.16 sugeriram que o efeito ergogênico junto com o exercício aeróbico estava relacionado a um aumento na oxidação de ácidos graxos e subsequente preservação do glicogênio muscular. No entanto, pesquisas e análises recentes concluem que a cafeína afeta o desempenho de resistência em grande parte devido ao seu efeito antagonista sobre os receptores A1 e A2 de adenosina no cérebro17,18, aumentando a liberação de neurotransmissores no organismo e atuando na diminuição das sensações de dor e esforço24, podendo aumentar o recrutamento de unidades motoras por meio de uma maior liberação de cálcio através dos receptores de rianodina no retículo sarcoplasmático19. Atuando através desse mecanismo, esse ergogênico pode modular a fadiga central e influenciar as avaliações de esforço, dor e níveis de vigor, os quais podem levar a melhorias no desempenho20,21.
Sua utilização no esporte é comumente utilizada devido aos efeitos ergogênicos relatados16,22. Sendo proposta para melhora do desempenho físico, agindo de forma independente, ou concorrentemente, através de 3 mecanismos diferentes: (1) aumento da mobilização de cálcio intracelular; (2) aumento da oxidação de ácidos graxos livres; (3) como antagonista do receptor de adenosina no sistema nervoso central17 23.
Nesse sentido, vale ressaltar que outro tipo de bebidas frequentemente utilizada no esporte corresponde aos energéticos, constituídos de taurina, gluconoralctona, inositol, carboidratos, aminoácidos e vitaminas, além da cafeína, tendo sido então investigada como recurso ergogênico para atletas24,25.
Altimari et al26, constataram que o uso da cafeína em exercícios físicos de média e longa duração pode ser capaz de promover uma melhoria na eficiência metabólica dos sistemas energéticos durante o esforço, contribuindo para melhoria do desempenho. Os resultados encontrados a partir desta revisão demonstraram que 75% dos trabalhos revisados apresentaram efeito ergogênico, além de diferentes respostas metabólicas e fisiológicas após a administração desta substância. Esses mesmos autores observaram que a dosagem de cafeína é fator determinante na melhora do desempenho, pois o desencadeamento das respostas fisiológicas e metabólicas parece estar atrelado à quantidade ingerida. Assim, embora doses de cafeína entre 3 e 10 mg/kg de peso corporal possam melhorar o desempenho, o intervalo ótimo sugerido é de 3 a 6 mg/kg27.
No geral, a suplementação possui eficiência ergogênica quando a prescrição entre 3 a 6 mg/kg de massa corporal do atleta por cerca de 1 hora antes da competição, treinamento ou prova28,29. Este tempo de consumo prévio é fundamental, sobretudo, em provas de média e longa duração (exercícios aeróbios), nas quais os efeitos da cafeína são mais estudados e detalhados28,29,30.
A absorção da cafeína alcança o pico de concentração plasmática máxima entre 30 a 60 minutos após a ingestão31,32, sendo consumida por meio de bebidas cafeinadas, suplementos em capsula ou barras de chocolate30.
A biodisponibilidade pela via oral é de 100% da quantidade ingerida, sendo a distribuição pelo organismo altamente eficiente33. Com base na absorção tecidual e na depuração urinária, as concentrações circulantes diminuem em 50-75% em 3-6 horas do consumo 34,35. A excreção urinária, como meia-vida de 4 a 6 horas apresenta relação com o sexo33.
Hespel et al.36sugerem a ingestão durante o aquecimento, cerca de uma hora antes da partida, uma vez que os efeitos positivos podem durar o jogo todo, inclusive em prorrogações.
Haskell et al.37observaram que com pequenas doses (1-2mg/kg) a suplementação melhora o tempo de reação, a atenção e a velocidade de processamento da informação visual, fatores importantes numa partida de futebol.
Bassini-Cameron et al.38analisaram os efeitos da suplementação na dose de 5 mg/kg, 1 hora antes de um teste intermitente semelhante a um jogo de futebol em parâmetros hematológicos e bioquímicos. Os autores observaram um efeito sinergista nos parâmetros de dano muscular, analisados por meio de concentrações séricas das enzimas de creatina quinase, lactato desidrogenase e aspartato transaminase. Além das alterações nesses parâmetros, também foram observados aumento dos monócitos e neutrólifos circulantes, fenômeno que os autores atribuíram a uma resposta inflamatória mais acentuada no grupo suplementado, em razão de aumento no dano muscular observado nesse grupo.
Considerações sobre a cafeína
O uso moderado é benéfico às atividades desenvolvidas corriqueiramente, entretanto, como ocorre com grande parte das substâncias, o consumo excessivo leva a efeitos adversos, como o chamado cafeinismo, que é a intoxicação pelo uso prolongado ou excessivo do café ou de substâncias que contenham cafeína. A intoxicação crônica foi observada entre consumidores de cafeína que ingeriram entre 0,6 e 1 g/dia, ocasionando arritmia cardíacas e distúrbios gastrointestinais5.
A ação desta metilxantina é variada, com influência direta no SNC e cardiovascular, tendo ainda, comprovada atuação energética nas atividades físicas.
Outros efeitos negativos, relacionados ao consumo agudo entre 10 e 15 mg/kg massa corporal, que também pode alcançar valores tóxicos aos seres humanos, são39: (1) prejuízo na estabilidade de membros superiores; (2) rubor; (3) formigamento na face; (4) palpitações cardíacas; (5) trepidez e tremores; (6) insônia; (7) nervosismo; (8) ansiedade; (9) naúsea; (10) desconforto gastrointestinal; (11) agravamento de gastrite; (12) úlcera, sendo esta principalmente quando o consumo da cafeína ocorre em jejum.
Conclusão
Os presentes estudos apontam que a cafeína age como um eficiente agente ergogênico em exercícios físicos de média e longa duração. A melhoria no desempenho atlético, após a ingestão de apenas 3 a 6 mg de cafeína por quilograma de peso corporal, tem sido revelada por estudos em diferentes tipos de exercício físico, sobretudo em atividades de longa duração27,40,41,42.
Reitera-se ainda que a maioria das pesquisas utilizou um protocolo em que a cafeína é ingerida 60 minutos antes do desempenho para garantir a absorção ideal; no entanto, também foi demonstrado que a cafeína pode melhorar o desempenho quando consumida 15 a 30 minutos antes do exercício. Sendo utilizada dentro dos limites de 3 a 6 mg de cafeína por quilograma de peso corporal, parece ser uma substância efetiva para a melhoria do desempenho físico, podendo ser considerada um recurso ergogênico nutricional.
Deve-se finalmente, ressaltar que a administração de dosagens elevadas de cafeína pode trazer inúmeros desconfortos para o usuário, contribuindo para a incidência de efeitos colaterais, colocando em risco a sua integridade física.
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Por Prof. Dr. Luis Felipe Tubagi Polito* e Prof. Esp. Sérgio Rubem Miranda Júnior**
*Coordenador do curso de pós-graduação em Treinamento Desportivo da FMU (SP)
**Grupo de Estudos em Psicofisiologia e Treinamento Aplicados ao Exercício e ao Esporte
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Fonte: Universidade do Futebol
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